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Com atuação estratégica da Enfermagem, inserção do DIU cresce, mas acesso ainda é desafio no SUS

Um levantamento realizado pelo Censo nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) revelou um dado preocupante: menos de 20% das unidades no Brasil realizam a inserção do dispositivo intrauterino (DIU), um dos métodos contraceptivos mais eficazes e oferecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O cenário contribui diretamente para os altos índices de gravidez não planejada no país, que atinge 55% das gestações, segundo dados recentes.

Apesar da segurança e eficiência do método — utilizado por apenas 4,4% das brasileiras entre 15 e 49 anos — o acesso ao DIU ainda é restrito. O dispositivo mais utilizado na rede pública, o DIU de cobre (modelo T de Cobre 380 A), é não hormonal, reversível, de longa duração e com taxa de falha inferior a 1%, se comparado à pílula anticoncepcional ou ao preservativo, que apresentam índices de falha entre 8% e 12% no uso típico.

Para Renné Costa, coordenador da Câmara Técnica de Enfermagem em Saúde da Mulher do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), os enfermeiros têm papel estratégico na ampliação do acesso ao método. “Os enfermeiros são fundamentais para mudar essa realidade. Quando capacitados, podem realizar a inserção do DIU e ampliar significativamente o acesso das mulheres ao método contraceptivo”, defende.

A experiência do Distrito Federal comprova a efetividade dessa atuação. Com a inserção sendo feita também por enfermeiros, o número de implantações de DIU cresceu 147% na capital. Dados preliminares do Ministério da Saúde indicam que, em 2024, enfermeiros brasileiros realizaram 23 mil atendimentos para inserção do dispositivo.

“Saímos de 1% para 4% no uso do DIU graças à atuação dos enfermeiros. Isso demonstra como dar autonomia a esses profissionais impacta positivamente na garantia dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres. Esse é um dos pilares da Reforma Obstétrica que almejamos”, ressalta Renné.

Desinformação ainda é obstáculo

Apesar das vantagens, o DIU ainda é cercado de mitos que dificultam seu uso. A desinformação afeta desde as decisões de gestores e profissionais de saúde até a escolha consciente das próprias usuárias.

Entre os equívocos mais comuns, está a ideia de que o DIU seria um método abortivo — o que é incorreto. O dispositivo age antes da fecundação, dificultando a movimentação dos espermatozoides até o óvulo. Além disso, não há restrições quanto ao uso por adolescentes ou mulheres que nunca engravidaram.

Outros mitos infundados incluem a necessidade de ultrassonografia para a inserção — que, na maioria dos casos, é dispensável — e a crença de que apenas médicos ginecologistas podem realizar o procedimento. Tanto médicos quanto enfermeiros capacitados podem fazer a implantação do dispositivo.

Capacitação profissional e escuta qualificada

No Amapá, a capacitação de enfermeiros tem avançado com etapas teóricas e práticas, incluindo simulações e inserções supervisionadas. A formação dos profissionais tem sido promovida pelo Cofen, em parceria com os Conselhos Regionais de Enfermagem e as Secretarias Municipais de Saúde.

“A consulta de enfermagem em saúde sexual e reprodutiva deve ser centrada na escuta qualificada, considerando os desejos, o histórico e as necessidades da paciente”, explica Renné. Para indicação do DIU, é necessário realizar uma anamnese cuidadosa, além de exame pélvico. O teste Beta-HCG só é solicitado em caso de suspeita de gestação.

Após a inserção, é recomendada uma consulta de retorno entre 30 e 40 dias. O ultrassom, embora amplamente solicitado, não é o primeiro recurso para avaliar o posicionamento do dispositivo. “A clínica é soberana. Um bom exame físico e a verificação do fio do DIU são geralmente suficientes. O ultrassom deve ser a exceção, não a regra”, complementa o coordenador.

A atuação dos enfermeiros nessa área tem respaldo legal: está prevista na Lei nº 7.498/86 e no Decreto nº 94.406/1987, além de estar regulamentada pela Resolução Cofen nº 690/2022 e pela Nota Técnica nº 31/2023, do Ministério da Saúde.

Enquanto o DIU segue subutilizado no país, experiências locais e o fortalecimento do papel da enfermagem demonstram que é possível avançar no acesso à contracepção eficaz e segura, contribuindo para a autonomia reprodutiva das mulheres e a redução das gestações não planejadas.

Por: Ascom-Coren/MA, Stella Gonçalves, com informações do COFEN

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